O Silêncio da Depressão - O Que Me Impede de Conversar e Ter Relações Socias.
Um dos piores pesadelos de uma pessoa com depressão é a sensação de não ter controle dos seus pensamentos e das suas ações.
Um fluxo enorme de pensamentos torna-se insuportável. Tenho a necessidade de parar de pensar mas não consigo. São pensamentos invasores, os quais eu não quero pensar. No entanto, eles estão lá, involuntariamente. São como imagens borradas de uma pintura. É como se eu não pudesse mais distinguir os acontecimentos na minha vida. Não há passado, nem futuro. O presente não passa de momentos isolados, sem nexo com o passado e nem com o futuro.
A vida torna-se um grande peso. Sinto-me incapaz de carregar em meu corpo e em minha mente o peso de cada momento vivido.
Se eu sou um veiculo de comunicação e interação com outras pessoas, de repente me sinto desconectada, sem qualquer vínculo com as pessoas a minha volta, sem nenhum envolvimento com os acontecimentos, todos estranhos, irreconhecíveis.
Às vezes conversar com alguém é uma tortura. Meus pensamentos não param para acompanhar o ritmo da conversa, me perco enquanto ouço ou falo. Perco o fio da meada. Muitas vezes fico sem ter o que dizer, diante de uma pergunta ou de um comentário que exige uma certificação de que estou acompanhando toda a conversa. Fico sem graça. Peço desculpas por esquecer sobre o que eu estava falando ou não saber sobre o que eu estava ouvindo.
É como uma ausência momentânea, mas que se repete inúmeras vezes ao longo da conversa. Parece que não estou naquele lugar naquele momento. Não consigo me envolver com a pessoa com quem estou falando. Como consequência disso fico calada, desejo acabar logo aquela conversa. Fico impaciente, irritada, inquieta e principalmente distante.
Tratar a depressão como algo que não "está em mim" é impossível. Ela está e me transforma em um ser vazio. Sem sensibilidade para muitas coisas e extremamente sensível para outras.
Mas esse vazio pode ser apenas uma forma de não perceber tantos pensamentos e sensações incômodas passando ao mesmo tempo por mim e em mim.
A verdade é que tenho muita dificuldade para realizar uma tarefa simples como conversar com alguém.
Se recebo uma visita desejo que ela vá embora logo. Fico esgotada em instantes após começar um diálogo. Penso muito sobre outras coisas e não consigo acompanhar o raciocínio de quem está falando. Tenho dificuldade até para concordar com o que está sendo discutido. Discordar então é praticamente impossível. É uma aceitação tácita das idéias do outro. Mas isso não importa. Eu não ligo a mínima se algo está certo ou errado. Se eu gosto ou não gosto de algo. Se eu quero ou não quero determinada coisa. Enfim, sou incapaz de escolher, de tomar decisões, de fazer algo acontecer. Nada de desejos, vontades, iniciativas, ainda menos de determinações, decisões.
A vida de uma pessoa deprimida é um martírio constante. Tudo é motivo para sofrimento. Não existe tempo nem realidade, tudo parece um sonho, em que somos apenas expectadores dos acontecimentos.
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